As BETs e o desafio da fidelização

O cenário das apostas online no Brasil mudou de forma radical desde o

segundo semestre de 2024, quando o governo passou a conceder licenças

oficiais para que as BETs operassem legalmente no país. O setor, antes

marginalizado, rapidamente se tornou um dos grandes riscos sociais, drenando

recursos de brasileiros de todas as classes que acreditam na possibilidade de

ganhos rápidos, numa prática muitas vezes viciante.

Diante dessa realidade, as casas de apostas perceberam que precisavam não

apenas mudar o discurso, mas também gerenciar suas reputações. Dois

caminhos se destacaram. O primeiro é o esforço de comunicar que o jogo é

entretenimento, não investimento. Publicidades passaram a reforçar a

mensagem do “jogo responsável”, lideradas, por exemplo, pela campanha da

BetNacional, que contou com atletas olímpicas recém-saídas de Paris.

O segundo caminho é mais estratégico e, talvez, o mais promissor: criar

fidelidade por meio de experiências e de um clube de benefícios exclusivo.

Algumas plataformas oferecem vantagens diretas, como promoções semanais,

cotações especiais e sorteios de produtos. Outras investem em experiências

memoráveis, como camarotes em estádios para clientes VIPs ou watchparties

em Fan Zones durante grandes finais, combinando entretenimento, comida,

bebida e socialização.

Mas a verdadeira inovação está nos clubes de benefícios, um conceito que as

BETs ainda não iniciaram visivelmente, mas que não podem menosprezar. Por

meio desse modelo, o associado não recebe apenas recompensas ligadas às

apostas, mas descontos e promoções em parceiros externos — farmácias,

supermercados, restaurantes e outros serviços do dia a dia. Essa estratégia

cria um efeito duplo: ao economizar fora da plataforma, o cliente sente maior

liberdade para investir mais na própria aposta, enquanto a marca constrói um

vínculo emocional e financeiro mais sólido.

Em um mercado brasileiro que conta com cerca de 80 empresas operando

mais de 150 marcas, fidelizar clientes é prioridade. Entre janeiro e março de

2025, o setor movimentou cerca de R$ 30 bilhões — e investir na retenção não

é apenas estratégico, é imperativo. Mas, com a crescente atenção da mídia

aos riscos do jogo online, as BETs precisarão mostrar uma face mais humana.

Mais do que promoções criativas e experiências exclusivas, o verdadeiro teste

para a reputação das casas de apostas será demonstrar comprometimento

genuíno com o bem-estar dos clientes. Isso envolve ir além da cartilha do “jogo

responsável” nas campanhas publicitárias e implementar mecanismos práticos

de autocontrole, como limites de depósito, pausas obrigatórias e canais de

suporte psicológico.

No jogo da fidelização, não basta premiar quem aposta mais: é essencial

garantir que o engajamento não se transforme em dependência. As marcas

que conseguirem equilibrar benefícios atrativos, experiências memoráveis e

segurança emocional e financeira não terão apenas clientes recorrentes, mas

defensores de sua reputação em um mercado sob constante escrutínio. No fim,

a aposta mais inteligente que uma operadora pode fazer é na saúde e na

satisfação de quem mantém o negócio vivo — e um clube de benefícios bem

estruturado pode ser a chave para esse equilíbrio.

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